Argumento, Exemplo e Convicção na Defesa do Vegetarianismo
George Guimarães
Março de 2009
Nunca antes o tema do vegetarianismo foi tão debatido, conquistando novos espaços a cada momento. O mês de fevereiro de 2009 teve como destaque a declaração de um comentarista de largo alcance que discorreu, sem amarras, sobre o tema do impacto ambiental causado pela criação de animais de corte. Nesse mesmo mês, vimos dar entrada no Senado Federal o projeto de lei que propõe a inclusão da informação sobre a presença de ingredientes de origem animal nas embalagens de produtos alimentícios, citando no texto especificamente a palavra “vegano”. Eu pessoalmente concedi perto de uma dezena de entrevistas para rádios, TV e para a mídia impressa. Muitas outras matérias e entrevistas foram publicadas em consulta a fontes nacionais e internacionais.
O que mudou nos últimos anos que tornou possível alavancar a exposição na defesa do vegetarianismo? Terá sido o interesse do público sobre o tema ou terá sido o aumento no número de ativistas que se colocam a divulgar os fatos sobre a pecuária e os benefícios de aderir a uma dieta vegetariana? Terá sido ainda o aumento na oferta de produtos em lojas e restaurantes ou simplesmente a impossibilidade de ignorar os impactos de uma dieta centrada na carne à medida que os fatos escancaram-se à frente dos olhos da população mundial? Por último, terá sido o aumento na quantidade de dados científicos que embasam a nossa defesa e dão mais força exposição à nossa argumentação?
Acredito que seja uma combinação de todos esses fatores, que se resumem ao aumento e fortalecimento das informações que embasam a nossa argumentação e ao aumento do empenho em levá-las a conhecimento público. Mas há um fator que aumenta exponencialmente a nossa força na difusão do vegetarianismo e por isso se sobrepõe a todos os outros. Esse fator é a convicção com que tratamos o assunto.
O vegetarianismo é uma ciência prática. Não é apenas algo sobre o que falamos, mas é também algo que praticamos. Para a boa defesa de um argumento, a convicção ao defendê-lo pode ser fator de maior importância do que o próprio argumento. O que esperar então de um argumento que, além de contar com uma fundamentação cientificamente comprovada, também pode ser defendido com convicção? O resultado certo é uma defesa bem sucedida. Pois é disso que nós, defensores de argumentos em favor do vegetarianismo, sejamos nós profissionais ou leigos, desfrutamos e por isso os bons resultados que vêm sendo obtidos: bons argumentos não nos faltam e, por tratar-se de uma opção que implica em vivência prática, também gozamos do benefício de podermos falar com a força do exemplo e, consequentemente, imbuídos de convicção.
Não estou sugerindo que descartemos as evidências científicas, mesmo porque essas também estão ao nosso favor e o estudo dessas contribui para formar a nossa convicção. Estou apenas destacando que sempre que nos colocamos a argumentar sobre o vegetarianismo, devemos evocar conscientemente a nossa convicção.
Isso é importante porque quando, ao procurarmos embasar a nossa argumentação, recorremos a estudos e estatísticas, nem sempre estamos falando de algo prático, mas sim de hipóteses e probabilidades. Mas o fato é que esses estudos e estatísticas buscam simplesmente explicar os mecanismos que fazem manifestar o que vivenciamos na prática. Apesar de poder ser útil, um estudo que investiga como a dieta vegana é capaz de reduzir o colesterol, por exemplo, pode oferecer também alguns resultados inconclusivos ou que estão sujeitos a interpretações variadas. Mas esse estudo apenas foi suscitado porque antes foi observado algum padrão de redução de colesterol entre veganos. O estudo apenas busca explicar por que isso está acontecendo. Por isso, quando recorremos à nossa convicção na defesa do nosso argumento, podemos estar circunstancialmente desprovidos da explicação sobre o modo pelo qual o mecanismo se manifesta, mas ainda assim podemos estar convictos de nossa defesa e isso certamente será perceptível ao interlocutor. Obviamente, cabe aqui a responsabilidade de cada um em estar constantemente atualizando as fontes que alimentam a sua convicção, avaliando e reavaliando para que não corra o risco de fazer um uso equivocado dessa força.
O meu objetivo ao enfatizar a importância da convicção que deve acompanhar a informação é apenas apontar que, na maioria dos casos, é a nossa vivência prática (e a certeza que vem com ela) o que irá transparecer ao interlocutor. Os argumentos formados a partir da informação qualificada apenas somam-se a essa postura. Portanto, trabalhe e valorize a sua segurança e a sua postura tanto quanto valoriza os seus argumentos. Faça isso através do estudo e da experiência e aumente a força com que você é capaz de transmitir a sua mensagem.
Aliás, se você ainda não está trabalhando para transmitir a mensagem que você entende ser importante e verdadeira, essa mesma mensagem que em algum momento te despertou para uma nova verdade e que pode ser também valiosa para tantas outras pessoas, o que você está esperando? O presente e o futuro de nossa civilização, a violação diária aos direitos de milhões de vidas animais e a própria sobrevivência do planeta não podem esperar. Sobretudo, a verdade clamada pelo verdadeiro conceito de justiça não pode tolerar qualquer procrastinação. Disso eu estou convicto.