Sérgio Greif

Algumas instituições científicas, se dizendo bastante preocupadas com o futuro da ciência, estiveram no último dia 13, em Brasília para tentar mobilizar os deputados para apressar a votação, e aprovação, do Projeto de Lei 1.153/95, que regulamenta a experimentação animal. A alegação é a de que a falta de regulamentação, até o momento, torna o setor frágil frente a atuação de grupos opostos à experimentação animal. Nessa linha de argumentação, a ciência não pode progredir sem a experimentação animal, e dela depende a saúde humana. Alegam também que ainda não existem alternativas para todas as pesquisas que são realizadas em animais. 

Esse evento traz à tona uma discussão que não pode deixar de ser debatida por toda a sociedade. São os animais modelos que reproduzem o metabolismo do ser humano? Pesquisas em animais beneficiam seres humanos? Sabemos que o câncer é, desde a década de 80, tão fatal para ratos quanto o resfriado é para nós. Sabemos que ratos não tem mais problema de colesterol elevado, graças a um coquetel de vitaminas que os cientistas desenvolveram especialmente para eles. Sabemos que o Mal de Parkinson, Mal de Chagas, o nanismo e até o déficit mental são problemas do passado para esses animais. E que ratos que sofrem lesão na medula podem voltar a andar desde a década de 90.

Todos esses resultados promissores, obtidos já há tantos anos, às custas de muitas horas de trabalho dos cientistas e muitos bilhões de dólares do contribuinte, porém, de nada servem para o ser humano. Seres humanos continuam morrendo de câncer, sofrendo com seu colesterol elevado, Mal de Parkinson, Mal de Chagas e paraplegia. Embora a medicina esteja tão avançada no que diz respeito a roedores, ainda estamos engatinhando no que diz respeito ao ser humano. 
Isso porque o modelo que adotamos para nos representar não nos representa. Todos os dados obtidos experimentalmente de animais não podem ser extrapolados para seres humanos. Ainda que partilhemos muitas características fisiológicas e metabólicas com os demais animais, as diferenças entre as espécies levam a resultados muito diversos. 

Animais são utilizados em experimentos porque esse é o modelo de medicina que vem se desenvolvendo desde o século XVIII, mas de forma alguma isso significa que essa seja a forma mais correta de melhorar a saúde da população.
Chega a ser ofensivo ver cientistas, pessoas com formação adequada e que deveriam buscar a verdade acima de tudo, utilizar de linguagem agressiva e maliciosa para tentar fazer valer seus interesses particulares. Se a medicina hoje se encontra atrasada, é porque ela se baseia na experimentação animal e não será pela experimentação animal que ela irá se desenvolver. 
Defender o fim da experimentação animal não é colocar-se contra a ciência ou contra o ser humano, pelo contrário, é defender os interesses do ser humano e, acima de tudo, defender a ciência.

A medicina humana deve avançar mediante o estudo de seres humanos. Isso não significa aprisionar nossos desafetos em campos de concentração e utilizá-los como cobaias, tampouco isso seria científico. Atualmente a epidemiologia e a clínica médica são ciências periféricas frente às grandes industrias farmacêuticas e instituições de pesquisa, que produzem novos tratamentos e medicamentos. Mas, embora a venda de medicamentos atenda a interesses comerciais de grupos poderosos, a saúde da população não se encontra nesses medicamentos. Quando o cientista realmente busca a saúde da população, não é para o animal preso em um laboratório que ele deve olhar, mas para a população que já padece da doença.

Quais as origens dessa doença? Quais suas causa? Essas causas podem ser evitadas? Seus sintomas podem ser contornados sem que para isso se criem novas doenças, com novos sintomas? 
A medicina baseada na experimentação animal não beneficia seres humanos, exceto se eles tiverem interesses comerciais envolvidos. A medicina que de fato beneficia seres humanos é toda ela baseada no ser humano.


Sérgio Greif, Biólogo do grupo VEDDAS, em São Paulo (SP), mestre em Alimentos e Nutrição, co-autor do livro “A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo” e autor do livro “Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável”.

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