Veganismo é não-violência
George Guimarães
25 de outubro de 2001
O veganismo é, acima de tudo, uma escolha por uma vida saudável, não apenas do ponto de vista de saúde, mas também social e moralmente. É saudável para quem pratica, é saudável para o meio ambiente que é poupado do peso da produção de alimentos de origem animal e, obviamente, é saudável para os animais que são criados e mortos para alimentar pessoas.
Os benefícios de uma dieta vegana continuam a ser relatados a cada dia por investigações científicas e também por experiências individuais. Isso porque uma dieta isenta de produtos animais é isenta de colesterol, baixa em gordura (especialmente a gordura saturada) e rica em fibras, vitaminas e minerais, o que implica em uma enorme redução no risco de doenças como arteriosclerose, infarto, derrame, diabetes, câncer, constipação, entre outras doenças crônicas e degenerativas. Com uma dieta vegana, também são eliminados da dieta contaminados químicos como antibióticos, hormônios e pesticidas. A dieta vegana também é geralmente baixa em calorias, o que significa um melhor controle de peso.
São diversos os motivos para adotar um estilo de vida vegano, mas mesmo sendo muitas as formas pelas quais o veganismo se expressa, ele pode ser definido da seguinte maneira: um estilo de vida que evita todas as formas de exploração e violência contra animais humanos e não-humanos ou contra o planeta.
São poucos os que se iniciam no veganismo por uma questão meramente de saúde, apesar de esse ser um aspecto importante desse estilo de vida e um dos melhores argumentos em seu favor. Já o aspecto ambiental se mostra com sendo um forte motivo para os que decidem tornarem-se veganos. Sabemos hoje que a criação de animais para consumo humano é um fator de emissão de gases estufa mais importante do que o setor de transportes, ou seja, adotar uma dieta vegana traz mais benefícios para o meio ambiente do que deixar o carro na garagem. Isso ocorre porque a produção de carne e derivados requer uma quantidade muito grande de recursos naturais, o que inclui os combustíveis fósseis. Além do mais, é possível produzir mais vegetarias num mesmo espaço quando comparados com a produção de alimentos de origem animal.
No entanto, o maior número de pessoas que abraçam o veganismo é composto por aquelas que se sentem tocadas ao saberem que sua alimentação era, até então, dependente da exploração e morte de animais que sentem dor e medo e tem tanta vontade de viver e serem livres como qualquer pessoa.
O despertar pode vir no contato com o bezerro no sítio do amigo, ao saber que em muitos países asiáticos os cachorros são considerados uma iguaria e então perceber que seu animal de estimação poderia ser o jantar de alguém, ou na descoberta tardia de que o seu pintinho de estimação da infância (aquele que havia crescido demais para continuar morando em casa e a sua mãe disse ter mandado para a chácara do seu tio) havia na verdade tido o seu fim em um almoço de domingo com a família. Uma visita a um matadouro ou um vídeo que mostre a realidade por trás daquele pedaço de carne limpo e embalado também costuma ser eficiente para trazer a realidade à consciência, pois o contato com a realidade sempre desperta a consciência e a conscientização sempre nos traz mais próximos de adotarmos uma postura mais adequada do ponto de vista moral.
Imagine por exemplo a confusão de valores pela qual passa uma criança que tem que aprender que o boi, o porco e a galinha, animais tão dóceis e amáveis, os heróis de seus filmes favoritos, são também o seu jantar. A criança pode não buscar descobrir, em um primeiro momento, como o seu herói ou amigo foi parar no prato de jantar. Talvez ela busque em sua fantasia uma forma “amigável” de se tornar jantar. Talvez eles sejam tão amigos e amáveis que eles voluntariamente sacrificam-se para alimentar o seu amigo humano, algo que é possível aceitar na mente da criança. Situações como essas acabam por distorcer valores em formação pela criança. Depois de adulta, essa criança segue sem questionar a realidade por trás do seu prato de comida e assim seguimos cegos e coniventes com essa prática cruel e desprovida de valores que é o ato de alimentar-se com partes de animais.
Diversos estudos já demonstraram a relação entre violência animal e violência humana. Aqui está um bom exemplo: serial killers têm, em 90% dos casos, um histórico de maus tratos a animais na infância. O desprezo pela vida de um animal leva à perda do respeito pela vida humana. Crianças aprendem valores de compaixão e respeito através da relação que nutrem com animais. Despertar a compaixão pelos animais é uma forma de despertar a compaixão pela humanidade. Se animais podem ser mortos para satisfazer uma necessidade individual, isso pode levar a criança (ou a sociedade) à conclusão de que qualquer forma de vida também pode ser sacrificada em nome de obter algum benefício individual.
É claro que isso não se manifesta largamente na sociedade, pois existem regras sociais e de comportamento às quais aprendemos a obedecer. Obviamente, não são todos que cresceram comendo carne que se sentem à vontade para matar pessoas ou que se envolvem em atos de violência, grupos sectários, atividades que exploram trabalho escravo ou infantil e tantas outras formas de exploração e violência contra humanos que estão presentes em nossa sociedade. No entanto, a mensagem para a criança que está formando essas regras através do contato com o ambiente que a cerca é a de menosprezo à vida, de descaso ao sagrado. O impacto que isso tem na relação entre famílias, ideologias, sociedades, países, religiões é enorme.
Imagine um mundo livre de violência contra animais e você verá um mundo de paz também entre os humanos.