Psicologia para ativistas atuando em contato com o público

Giuliano J P Silva, psicólogo, músico e ativista: giupubis@gmail.com

Poderia a psicologia contribuir para o trabalho dos ativistas do VEDDAS?

Espero com este texto possibilitar uma reflexão sobre a maneira como o ativista se coloca no contato com as pessoas durante suas ações, de forma que este contato seja o mais construtivo possível, tanto para o ativista quanto para as pessoas atingidas. Utilizarei os conhecimentos da psicologia humanista, da abordagem centrada na pessoa, e minha experiência pessoal como ativista e como psicólogo nessa tarefa.

Apesar de estarmos sujeitos a valores externos que nos impõem maneiras de ser que nos distanciam daquilo que realmente somos, todos possuímos em nossa essência a capacidade natural de nos auto dirigirmos. Ao contrário da mentalidade bastante generalizada de que o ser humano é um ser irracional e que os seus impulsos, quando não controlados, levam à destruição de si e do outro, a psicologia humanista acredita que o ser humano vive naturalmente numa constante busca por harmonia interna, e consequentemente numa busca por uma maior harmonia com o seu meio. Por isso, a melhor maneira de favorecer que uma pessoa evolua é acreditar na sua condição natural de pensar, sentir, buscar e se direcionar no caminho de suas próprias necessidades, para, a partir dessa crença, facilitar condições para que a pessoa entre em contato consigo própria e com o mundo em que vive para buscar as suas próprias respostas e o seu jeito único de ser. A melhor maneira do ativista, do educador, do psicoterapeuta, do amigo ajudar é criando condições ideais para facilitar que a pessoa possa buscar em si própria o seu caminho.

Essas condições são criadas com a partir de três pressupostos básicos de acordo com a Abordagem Centrada na Pessoa. São eles: a congruência, a empatia e a aceitação incondicional positiva.

Congruência

Congruência significa a capacidade de aceitar os próprios sentimentos sem precisar disfarçar, lutar contra ou negar o que quer que se esteja sentindo ou pensando. É reconhecer-se como alguém que está se atualizando para viver melhor. Mesmo quando experimento um sentimento que não me agrada, preciso primeiro aceitar esse sentimento como meu, para conseguir olhar para ele e ter tranquilidade para transformá-lo.

Não há como buscar esconder um sentimento ou pensamento durante uma comunicação sem que isso apareça de alguma forma para o interlocutor ou para uma plateia. Ainda que a outra pessoa não saiba o que se passa dentro de mim, a mensagem que emito é prejudicada pelo ruído da minha luta interna. Uma vez que aceito o que sinto, reconhecendo que por mais perigoso ou reprovável que seja o meu sentimento é o que eu sou neste momento, não precisarei empenhar energia em reprimir, ocultar ou negar isso.

Se durante uma comunicação seus sentimentos e pensamentos internos começam a prejudicar o que você está tentando dizer ou ainda prejudica a sua disponibilidade para ouvir e compreender o outro, uma forma de lidar com isso é comunicar de uma forma cuidadosa, porém, verdadeira o que você está sentindo, seja o sentimento referente à pessoa com a qual você está conversando, referente à plateia da qual você está diante ou referente a você mesmo. Geralmente, o simples fato de dizer como você está se sentindo, já faz com que esse sentimento deixe de incomodar. Por exemplo: Uma vez, ao me dirigir a uma plateia numerosa e composta por pessoas com mais experiência em gestão de pessoas do que eu, comecei a me sentir ansioso. Logo no início da minha fala, notei que minha respiração estava ficando difícil e que meus pensamentos estavam um pouco confusos, entrecortados pela preocupação de minha imagem estar sendo prejudicada. Minha reação inicial foi procurar resolver aquela ansiedade, pois pressenti que isso poderia prejudicar minha apresentação. Mas quanto mais me esforçava para não me sentir ansioso, mais ansioso eu ficava. Até que me lembrei do princípio da Congruência e interrompi meu discurso dizendo para a plateia que eu estava me sentindo ansioso por falar para tantas pessoas experientes e que estava com um pouco de falta de ar por conta disso. Muitas pessoas riram como se eu houvesse dito aquilo para fazer piada. Ouvi algumas pessoas próximas dizendo que isso era normal. O fato é que, após expressar como eu me sentia, estar ansioso deixou de ser um problema para mim. Não deixei de estar totalmente ansioso, mas deixei de lutar contra a ansiedade. Estar ansioso não era mais um problema com o qual eu precisasse me preocupar, assim me senti mais tranquilo e pude acessar melhor as ideias que queria transmitir.

Empatia

Muitas vezes o caminho que julgo ser o melhor, é o melhor para mim. Mas cada um avança a partir do estágio em que se encontra e a partir do que é. Portanto o melhor para mim pode ser diferente do melhor para o outro. Com empatia é possível compreender e respeitar melhor os motivos pelos quais um indivíduo escolhe um caminho diferente do que eu escolho.

Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro sempre, pois desta forma temos mais condições de entender e aceitar o outro em seus motivos, seus medos e sentimentos e consequentemente mais condições de não julgar, interferir ou direcionar a pessoa por um caminho que acreditamos ser o melhor.

Aceitação Incondicional Positiva

Consiste em aceitar o outro de maneira positiva, sempre entendendo que a pessoa, da sua forma, está no fundo procurando se sentir bem e se encontrar.

Aceitar não significa concordar. Quando acreditamos na tendência natural das pessoas de procurar se sentir bem e se encontrar, temos mais facilidade para aceitar o outro, mesmo não compreendendo ou não concordando.

Quando aceitamos e acolhemos o outro a tendência é que a pessoa se sinta mais à vontade para ser quem é. Uma vez que a pessoa não está empenhada em se defender do juízo do outro, mas pelo contrário, encontra aceitação, poderá olhar para si mesmo e decidir mudar se estiver preparada e julgar que é o melhor para si.

Dessa forma, o sentido do trabalho do ativista está em oferecer recursos, informações e conhecimentos disponíveis, facilitando as condições para o outro ser o que é, para que assim ele possa empreender as mudanças de comportamento que quiser.

 

BIBLIOGRAFIA

FADIMAN, James & Frager, Robert (1986). Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra.

PEDRASSOLI, A, – O que é Psicologia (para leigos) – Página na Web: http://www.buscadorerrante.com/wp/2008/oqueepsicologiaparaleigos/3/

PINTO, Marcos A.S. Curso de Introdução à Abordagem Centrada na Pessoa – www.encontroacp.psc.br/

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