Sérgio Greif

O movimento pelo fim da experimentação animal não é um movimento irresponsável, como querem fazer parecer muitos cientistas interessados na continuidade da experimentação animal. Não é um movimento que se opõe à ciência e à saúde humana, mas um movimento que busca uma transformação na abordagem científica, de forma a priorizar a saúde da população em detrimento dos interesses econômicos de grupos restritos.

Posicionar-se contra a experimentação animal é buscar a ciência séria, correta. Defensores da ciência baseada na experimentação animal alegam que os avanços científicos ocorrem quando doenças humanas são induzidas em animais experimentais. No entanto, apesar do tempo e dos bilhões de reais investidos pelo contribuinte, os resultados obtidos desses experimentos não se aplicam ao ser humano.

Isso porque diferenças genéticas determinariam que cada organismo responda de modo diferente aos diferentes tratamentos. Essas diferenças tornariam até mesmo a extrapolação de dados entre populações humanas uma dificuldade. Com efeito, drogas desenvolvidas às custas de experimentos com seres humanos são efetivas apenas para 30-50% da população. Para o restante da população são drogas nada efetivas ou perigosas, já que podem produzir efeitos colaterais graves.

Modelos animais, além desses flagrantes fatos concernentes à sua própria biologia, apresentam também o problema adicional de serem animais saudáveis. As doenças precisam ser induzidas nesses animais, e muitos recursos científicos são destinados especificamente para isso. Mas de que forma podemos confiar nesses modelos com doenças induzidas, quando eles ignoram as origens de nossas próprias doenças? 

Extirpar o pâncreas de um cão pode induzir no animal um estado semelhante ao diabetes. Mas a doença diabetes é mais do que um pâncreas que não cumpre com sua função. O ser humano desenvolve a doença pela ação de determinados fatores genéticos e ambientais e só sabemos disso porque dados clínicos e epidemiológicos nos mostraram isso. Somente através do trabalho em cima desses fatores poderemos pensar em combater o diabetes em seres humanos. 

Não será forçando cães a inalar a fumaça do equivalente a 1.000 cigarros que obteremos dados referentes aos efeitos do tabagismo em seres humanos. É óbvio que apenas a observação da população de fumantes poderá produzir resultados confiáveis. A indução do câncer em animais mediante a aplicação de drogas não será resposta para a causa ou o tratamento do câncer em populações humanas. Isso não teria aplicação nem mesmo para a pesquisa veterinária, pois uma coisa é um cão doméstico desenvolver câncer naturalmente, e outra completamente diferente é que esse câncer lhe seja induzido. 

Embora esses exemplos possam parecer simplistas, eles refletem bem a linha de defesa em que se apóiam aqueles que lutam pelo fim da experimentação animal. Não somos uma seita religiosa tentando retroceder a medicina e todos os seus avanços. Queremos que a medicina avance e que o faça baseada em pressupostos corretos, livre do sistema viciado, da formas como se encontra.


Sérgio Greif, Biólogo do grupo VEDDAS, em São Paulo (SP), mestre em Alimentos e Nutrição, co-autor do livro “A Verdadeira Face da Experimentação Animal: A sua saúde em perigo” e autor do livro “Alternativas ao Uso de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável”.

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